Reflexões Sobre um Chiclete Mastigado
Escapou o chiclete de melancia que estava em minha boca diretamente ao chão. Sua cor rosada logo se misturou com toda a imundície da rua. A goma, que tinha um tom vibrante e singelo, caiu entre poças de lama, água sabe-se lá de onde, pedaços rasgados de papel e folhas mortas do outono. Em questão de segundos, a cor rosada do chiclete foi absorvida pelo ambiente, transformando-se em um marrom acinzentado que se camuflava perfeitamente com a sujeira ao redor. Foi então, ao olhar para aquele pedaço de goma de mascar que me vi refletido nele, uma estranha dissonância entre a doçura do sabor e a aspereza de um mundo já tão indiferente. No chão, o chiclete tornou-se uma metáfora da minha própria existência: algo outrora prazeroso agora perdido, diluído na sujidade do cotidiano. As folhas mortas do outono, desfeitas em sua fragilidade, deixavam claro que minha vida estava passando sem cerimônia. Os papéis rasgados, fragmentos de histórias alheias, misturavam-se à lama e à água, criando um