Buquê de Folhas

Hoje vivi momentos de encantamento com Nathan, um ser especial que carrega consigo a síndrome de Down.

Começo o dia com um afável bom dia e um simples “tudo bem?”, ele sempre tão cortês, apesar de sua timidez. Um pouco depois, em um gesto inesperado, ele me convida até sua mesa e, sem hesitação, retira um óleo de sua mochila que descreve como óleo de unção, pedindo-me para recebê-lo. Embora eu mantenha uma postura agnóstica, aceito seu gesto com gratidão. Então, diante de mim, Nathan começa a entoar uma prece por minha vida, me desejando um feliz aniversário. Naquele instante, jamais me senti tão tocado. Ao concluir com um sincero "amém", agradeço-lhe com um abraço.

Mais tarde, naquele mesmo dia, já havíamos saído da escola. Enquanto conversava com algumas amigas, Nathan chega animado.

-"Cheguei... cheguei!" - exclama.
-"Oi, Nathan! Já estava sentindo sua falta." - respondo.
Enquanto estou em pé sob a sombra de uma árvore, arranco uma folha. Nathan observa com admiração.
-"Como você fez isso?" - ele pergunta.
-"Assim, Nathan." - respondo, arrancando outra folha e entregando-a a ele.
Seu rosto se ilumina com a descoberta e ele sugere:
-"E se eu der isso para aquela menina?"
-"Que menina, Nathan?" - indago.
-"Aquela menina... você sabe bem!" - insiste.
-"Ah, aquela menina! Sei quem é. É uma ótima ideia, Nathan. Acho que ela vai gostar."
Então ele me surpreende com outra sugestão:
-"E que tal um buquê?"
Fico em silêncio por um momento, refletindo, antes de responder:
-"Mas um buquê, Nathan?"
Com seriedade, ele afirma:
-"Sim, um buquê!"
Busco uma solução:
-"Um buquê precisaríamos comprar, não é? Talvez em outro dia."
Sem hesitar, ele responde:
-"Não... Um buquê com estas folhas, o que acha?"
Olho para ele, com um sorriso se formando em meus lábios, e concordo:
-"Como não pensei nisso antes, Nathan! É uma ideia brilhante. Um buquê de folhas, ela vai adorar."
Nathan começa a colher delicadamente algumas folhas da árvore, criando seu próprio buquê improvisado.
Ele se aproxima de mim com as folhas em mãos e pergunta:
-"Você acha que ela vai gostar?"
Com certeza, respondo:
-"Demais, Nathan! Ela vai adorar."
Então, ele corre em direção à garota que está à porta da escola e lhe entrega o buquê improvisado. Vejo-o retornar, saltitante, com risadas ao vento.
-"Consegui, consegui, consegui!" - ele exclama.
Pergunto-lhe:
-"Ela gostou, Nathan?"
Com um sorriso radiante, ele confirma:
-"Sim, e muito!"
-"Viu só, Nathan? Eu sabia que ela iria gostar."

Diante desses acontecimentos, uma perplexidade me invade, seguida de reflexões profundas e uma emoção tocante. Admirei a pureza de sua alma, tão límpida e intocada. Em sua imensa inocência, ele se torna meu mestre diário, ensinando-me a essência de ser humano.

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