Peregrinação das sombras
Há em mim todos os sonhos,
O abandono,
O desprezo,
O desconsolo.
O abandono,
O desprezo,
O desconsolo.
Ao longe, vem o mendigo sem o cão, a cambalear de tão bêbado. Ele vem murmurando algumas palavras emboladas, murmúrios entrecortados, xingamentos ao vento. Entre rodopios, ele cai e ali fica.
Atravessando a rua, passa a freira, abençoando todos que por ali se divagam. Nela, mora um dom, ela busca dissipar as sombras que se acumulam nos corações despedaçados, dar consolo as almas inquietas e penosas é uma de suas habilidades.
Um dom que jamais terei, um dom que não posso querer o tê-lo. A quem quero enganar... Sou cético! Cegamente cético. Vejo o mundo em preto e branco, sem véu. Mal creio em mim, quem dirá em Deus.
Tudo em mim se faz pelo caos, o mais terrível e assombroso caos! Enquanto o mendigo repousa em sua própria cova, pergunto-me se a embriaguez que o consome é mais suportável do que minha própria intoxicação.
As palavras que murmuro são como as dele, um eco vago, perdido na vastidão do meu desencanto. Não me encontro em nenhum canto, sou tomado por aquele abandono e consumido por aquele desprezo, exaurido pelo desconsolo que fala por si só em meu peito.
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