Perda.
É aterrorizante, ver tudo se perder diante dos teus olhos, bem embaixo do teu nariz. Observar o desfalecer do que mal se pode compreender, no âmago do que considerávamos nosso, na mais íntima dança entre o olhar e o mistério. Imóvel, enquanto o inescrutável se insinua, sutil como a brisa que mal toca nossas faces. Tudo o que se faz é ficar imóvel, calado, ocioso. Sentindo o abismo lhe convidando para um salto único e impiedoso.
É aterrorizante, sim, entregar-se ao salto, deixar-se envolver pelo vento incerto que sussurra segredos aos ouvidos atentos. Mas, na entrega, na entrega completa e profunda, reside a promessa de uma ressurreição. Não como uma volta ao que era, mas como uma emergência renovada, como um renascimento que traz consigo as cores de um amanhecer nunca antes visto.
Não há nada que se possa fazer, senão, sentir, sentir toda dor adentrar em cada célula de seu corpo fraco e surrado, gerando uma dor insuportável de tal forma que respirar se torna uma tarefa angustiante. A cada inspiração, a aflição se espalha, como um incêndio incontrolável que consome tudo o que é bom e belo. A cada expiração, a sensação de vazio se aprofunda, que o leva de encontro ao abraço gélido do nada. A sensação é como estar à beira de um precipício, com um solo que sempre pareceu sólido agora rachando e se partindo, deixando-te em um vazio abissal de incertezas.
O tempo que parecia correr fugaz, agora parece ter congelado, preservando a dor como uma relíquia eterna em minha alma. Deixando-me incapaz de qualquer vontade, eu apenas aceito minha sina doentia, como uma marionete resignada aos caprichos de um enredo desconcertante e imprevisível. A impotência se entranhou em cada fibra do meu ser, sendo um mero espectador da minha própria e repleta desgraça. A única certeza que possuo é de que a dor está lá, como uma pedra em meu sapato, sempre me lembrando que ela está lá, me causando um incomodo constante e abusivo.
E assim, o mundo se desfaz, as esperanças se desvanecem, e o coração, outrora palpitante de vida, torna-se um eco vazio. O salto para o abismo é inevitável, e na queda livre em direção ao desconhecido, não há promessas de ressurreição ou renascimento. Apenas a certeza fria e implacável de que o abraço gélido do nada aguarda, paciente e inescapável.
Eu perdi tudo. E tudo o que fiz foi observar.
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