Fadado a dor.

Sou um homem doente... Sou um homem triste. Sou um homem sem graça nenhuma. Acho que sofro de câncer. Na verdade, não tenho a menor ideia da minha doença nem sei direito o que dói. Já tentei me tratar, o que resultou em uma tentativa falha, médicos em seguida de mais médicos, remédios o suficiente para perambular durante uma guerra com as tripas penduradas de fora e não sentir coisa alguma. Nada resolveu.

Não, meus senhores, eu não quero me curar da melancolia, não mais. E isso, não há dúvida, é uma coisa que os senhores não vão se dar ao trabalho de compreender. Mas, muito bem, eu compreendo os senhores. Claro, neste caso, não sou capaz de explicar quem é que estou incomodando com a minha tristeza. Mas sei muito bem que não posso, nem de longe, causar dano aos médicos, eu tentei, e sei, melhor do que qualquer um, que, com isso, só prejudico a mim mesmo e mais ninguém.

A doença que me aflige transcende o físico, é uma enfermidade da alma, uma ferida invisível que não cicatriza. A cada respiração, sinto a dor excruciante se espalhar por todo meu ser, corroendo qualquer resquício de esperança. Não há remédio que possa me salvar, nenhuma terapia capaz de libertar-me deste inferno pessoal.

Meus passos ecoam na penumbra da minha própria insignificância, enquanto o mundo segue seu curso indiferente. Perdoem-me, senhores, por minha recusa em buscar a cura. Não é por egoísmo ou teimosia, mas pela certeza de que a melancolia é meu fardo inescapável. A dor que carrego é parte intrínseca de quem sou, e negar sua presença seria negar a minha própria existência.

Cada noite é um tormento insuportável, quando a insônia e os demônios da minha mente se unem em uma dança maldita, onde a angústia parece crescer cada vez mais. Tentei enxergar a beleza do mundo, mas diante dos meus olhos ele nunca se mostrou verdadeiramente belo. A vida, talvez seja isso, um palco desolado, onde as máscaras de felicidade escondem a tragédia que habita em cada coração humano.

Continuo a vagar pela existência, um homem doente, um homem triste, um homem sem graça nenhuma.

– Dostoiévski ecoa em minha própria prosa.

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