Casa de lembranças.
E ali ficou... Diante aquela porta a qual havia batido por tantas vezes e ouvido somente o forte eco de suas vãs batidas. A casa estava vazia, mergulhada em um silêncio nefasto que ecoava por cada canto desabitado. As memórias que antes dançavam pelas paredes agora pareciam desvanecer, substituídas por um vazio profundo e inquietante. Ninguém mais habitava ali...
Lembrava-se das risadas que uma vez haviam preenchido aqueles corredores, dos passos apressados que ecoavam pela escada de madeira gasta, das conversas animadas que ecoavam através da espaçosa sala. Lembrava-se até mesmo do canto tolo de alguns pardais que por ali apareciam depois de uma longa noite de chuva, e o cheiro do café que de pouco a pouco impregnava cada centímetro da casa em manhãs tranquilas. Tudo aquilo parecia ter desaparecido, deixando para trás apenas a solidão e o eco dos tempos passados. Sentia-se a si mesmo como um espectro de lembranças, vagando pela casa como se fosse um intruso em seu próprio passado.
As janelas, que antes eram emolduradas por cortinas coloridas e cheias de vida, agora eram meras molduras de um mundo lá fora que não mais o alcançava. A luz do sol que entrava pelas frestas parecia tímido... triste, como se também sentisse a falta da presença daqueles que um dia fizeram daquela casa um lar. Os móveis, outrora ocupados por gestos e conversas, permaneciam inertes, testemunhas silenciosas da passagem do tempo.
A sensação era semelhante a ter perdido um braço ou uma perna, um pedaço vital de si mesmo arrancado sem aviso prévio. As paredes eram espelhos que refletiam não mais a vida, mas a saudade que habitava seu coração. Cada passo que dava ressoava como um suspiro, uma lembrança sutil do que costumava ser e que agora se tornava uma ferida aberta.
Ao olhar pela vidraça da janela do cômodo que costumava ser seu quarto, viu um pardal solitário pousado no parapeito. Seus olhares se encontraram por um breve instante, como se ambos compartilhassem a solidão daquele lugar. O pardal se assusta, e então, com um bater de asas, o pardal partiu, deixando para trás um vazio ainda mais profundo.
E assim, entre o passado e o presente, ele permaneceu ali, diante daquela porta que já não se abriria para receber quem quer que fosse.
Comentários
Postar um comentário