À deriva
Eu estou sozinho. As árvores não são árvores, os pássaros não são pássaros e eu não sou eu, mas algo que tem andado por um longo tempo. O peso da solidão desce sobre mim como uma densa neblina que envolve minha alma. Cada passo que dou é como um eco vago, perdido em meio ao silêncio ensurdecedor da minha existência.
O mundo ao meu redor é cego, surdo e mudo, como se tivesse sido pintado com tons de cinza, desprovido de cores. As árvores, que eram árvores, agora são meras sombras esguias que se contorcem no horizonte. Os pássaros, que antes enchiam o ar com melodias, agora emitem sons dissonantes, ecoando como sussurros inquietantes. Suas penas perderam o brilho e seu voo majestoso deu lugar a um movimento desajeitado, transformaram-se em bêbados malabaristas, observo-os, questionando se são realmente o que parecem ser ou apenas projeções ilusórias de um mundo desvanecido.
E eu, bem, eu não sou eu. Sou apenas um eco solitário de um ser que costumava existir, mas que se perdeu nas dobras do tempo. Minha identidade se esvaiu, como uma pintura desbotada pelo sol implacável. Não consigo reconhecer o rosto que me olha no espelho, nem o sorriso que costumava surgir subitamente.
Tudo o que resta é essa sensação de vazio, de um vácuo que consome cada pedaço do meu ser. Meus passos são lentos e pesados, arrastando-se por caminhos desconhecidos, em busca de algo que possa me resgatar dessa névoa que me engole. Caminho sem rumo, perdido entre as sombras, esperando que um raio de luz penetre a escuridão e me traga de volta à vida. Mas, por enquanto, sou apenas um fantasma solitário, um ser em suspenso, preso entre o que fui e o que poderia ter sido e o que hoje sou.
Mas esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Enquanto espero, as horas passam junto ao tempo, as árvores continuam a não ser árvores, os pássaros permanecem sem suas canções, e eu... eu sigo sendo apenas um espectro errante em busca de um lugar ao qual eu possa pertencer.
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