Tédio dominical.


O tédio sempre me aborda num domingo à tarde, na televisão, sempre está passando um daqueles clássicos progamas ruins de domingo, e o tédio chega como um convidado indesejado que irrompe a tranquilidade do meu ser. Ele parece pacífico, de bons modos, com seu semblante sereno, mas suas intenções são ardilosas e suas ações impulsivas. 

Ao me envolver em seu abraço indolente, percebo que ele não me paralisa, ao contrário, tudo se movimenta ao seu redor. Os móveis ganham uma aura inquietante, as sombras dançam ao som do seu sussurro e o ar se torna pesado, impregnado de desânimo. O relógio na parede parece desacelerar seu tic-tac, como se o tempo desejasse se render ao tédio e acompanhar seu ritmo monótono. Sinto como se o tempo se arrastasse, como se cada segundo fosse uma eternidade. 

Minhas mãos vagueiam sem propósito, procurando algo que possa quebrar a monotonia que o tédio insiste em impor. As ruas lá fora, normalmente agitadas, com crianças brincando, os vizinhos, que costumavam se reunir nas calçadas para trocar histórias e fofocas, não estão lá, nem mesmo os velhinhos que jogam bingo em todos os domingos, as ruas tornam desérticas, como se todos compartilhassem da mesma melancolia dominical. O tédio é um convite para o marasmo.

Enquanto o tédio me acompanha, vejo as cores desbotarem e os sons se dissiparem. O mundo ao meu redor perde sua vitalidade, se tornando uma tela cinza e sem vida. O tédio, embora pareça pacífico e inofensivo, é um convite à ação. Por isso, não o levo a sério, afinal, somente o bobo não sente tédio.

Comentários

Postagens mais visitadas