Século XXI.

Já despertam sobressaltados antes mesmo dos primeiros raios de sol, onde a única coisa que podem ver é o clarão entre o dia e a noite, marcados pela intensa geada que deixa seus corpos rígidos ao sentirem o frio. Seus despertares são marcados pelo trabalho árduo e pelos estudos incessantes, numa rotina frenética que os leva a enfrentar ônibus e trens lotados, num emaranhado de corpos apressados e mentes cansadas. 

A dor percorre seus corpos, ecoando no âmago do coração e nos recônditos da mente. Não há sequer qualquer resquício de uma consciência plena, apenas vazios preenchendo a alma fraca e fios invisíveis manipulando suas ações como marionetes tolas. Presos na culpa do passado, se debatem em desejos irreversíveis. 

Mas o passado não pode ser resgatado. A infância que ficou para trás não pode ser recuperada, tampouco as escolhas que foram deixadas pelo caminho. Ainda assim, eles permanecem ali, com o coração pulsante no peito, mais vivos do que nunca. 

A tela brilhante, que dita as regras do cotidiano, engana com sua aparência hipnotizante. O discurso imposto, que se infiltra sutilmente em suas mentes, cria ilusões. A verdade é que eles não se importam com seus anseios e desejos. A vida não é uma corrida desenfreada, mas um percurso repleto de momentos de descanso e contemplação. 

Nem tudo o que se deseja irá, de fato, nos salvar. Se estamos vivos, se existimos, então merecemos mais do que apenas cumprir obrigações. Merecemos sorrir, merecemos amar. Ainda estamos aqui, pulsando com uma força que nem sempre somos capazes de perceber, explicar ou por fim, frear.

Comentários

Postagens mais visitadas