O campo e o riacho.
Estou em um vasto campo nebuloso e sombrio, o campo no qual onde quer que eu olhe ou vá, encontro apenas dor. Dor e dor, nada além da dor. O que seria a vida senão a incontestável dor?
Se nossa existência não tem a dor como fim imediato, pode-se dizer que não há razão para estar no mundo. É um absurdo admitir que a dor sem fim que nasce da miséria inerente à vida e preenche o mundo, seja por puro acaso, e não o fim em si. A dor é uma regra de mundo, sofrer então se torna inquestionável.
Neste campo, há um riacho que corre sem nenhuma desavença, enquanto não encontra obstáculo, de mesmo modo sou como esse riacho e todo esse campo. A vida corre bela e agradável, quando nada se lhe opõe à vontade. Se a atenção é despertada, é porque a vontade não era livre, é daí que parte o choque; o baque. Tudo o que se ergue em frente da nossa vontade, tudo que há de desagradável e doloroso, sentimos nitidamente um incômodo amargo imediatamente.
Não nos atentamos em grande parte das coisas, mas notamos o ponto ligeiro onde o sapato nos incomoda, não apreciamos as coisas boas do campo nem do riacho, e só pensamos numa banalidade insignificante que nos desgosta. Depois de muito refletir sentado à beira do riacho, cercado pela dor do campo, vejo que felicidade é portanto negativa, e somente a dor é positiva.
O vasto campo de dor não é mais campo, o riacho límpido e belo não é mais riacho. Agora vejo apenas a verdade e nada além da verdade.
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