Andando na maioria das vezes.

Estou cansado e não sei de onde vem esse cansaço, passo o dia deitado numa cama como um doente que está prestes a morrer, sem fazer absolutamente nada. Faço um tremendo esforço para me mexer sobre a cama, viro para o lado esquerdo para pegar o sol nas costas e não direto nos olhos, mesmo com as janelas e cortinas fechadas. E logo vai amanhecer. Minha família vão se levantar e vão procurar por mim no quarto, e dirão: ele está dopado de novo. Já passa da hora.

Meu quarto fede a morte, a mais eminente e bela morte. Estou triste e não sei de onde vem essa tristeza, quando raramente levanto de minha cama, levanto de forma acanhada e sublime, sempre olhando para o chão. Com medo de encarar o medo, a verdade, com medo encarar a vida. O meu quarto e minha cama parecem ser tão seguros e acolhedores que tenho vontade de ficar aqui para sempre. Mas não posso, não posso ficar aqui neste quarto escuro para sempre, deitado como um doente a beira da morte para sempre nesta cama. Este meu quarto não é impermeável, por mais confortável que aqui seja, a vida permeia tudo. Sou forçado a reagir, levantar-me e continuar andando por mais que vá doer. 

A vida é assim, ela não é regida sobre raios de sol e arco-íris. A vida é uma coisa ruim, a vida não é bela nem vistosa, é rancorosa. O importante é o quanto você é bom em apanhar e continuar andando. A vida anda me batendo muito, acredito que amadureci o suficiente para escolher quem vai me bater de agora adiante. Porque algumas pessoas vão apenas te desgastar. Outras você vai aprender. Estou parando de lamentar das surras que ando levando e estou começando a agradecer daquilo que eu aprendi com essas surras. Continuo andando... Na maioria das vezes, sinto dores dilacerantes que me levam a pensar que sou como uma imensa ferida. Apesar de tudo, continuo sorrindo mesmo que não seja genuíno, continuo tentando fazer o bem.

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