Persona.

Passei tanto tempo me moldando para ser aceito, que acabei esquecendo de quem um dia fui. Já era tarde, quando percebi que a máscara na qual vestia era incerta. Conheceram me por quem eu não era, não desmenti, perdi-me. 

Perdi-me logo agora, já fui me embora? Já não encontro mais luz, agora vejo apenas um vasto campo de sombra, talvez nem campo, talvez nem sombra.

Ainda hoje, passo horas a fio, passo dias, passo por todas as estações do ano. Tentando me encontrar, buscando migalhas de mim mesmo, me pego tentando lembrar de quem um dia fui, de quem um dia sonhei ser. Me perdendo cada vez mais em pensamentos, momentos, sentimentos... 

Eu vivi todos esses pensamentos, momentos, e sentimentos e fiquei tão triste... quando percebi que queria vivê-los e não conseguia. Amei e odiei, como toda a gente, mas para toda gente isso foi banal e instintivo, para mim, sempre foi exceção. 

Talvez eu que não saiba sentir, ser um ser humano, viver em sociedade, não sei conviver dentro de uma alma triste. Já que vi e senti todas as coisas e maravilhei-me de tudo. Mas ainda assim, tudo sobrou, tudo foi tão pouco - não sei - e eu sofri. Não sou mais eu, não sei quem sou.

Tudo isso revela a rara noção de que essa busca obsessiva, na qual me encontro preso, não vai me levar a lugar nenhum. A vida chega a doer, a enjoar, dá vontade de morrer.

Comentários

  1. Tive essa mesma sensação e comecei a escrever um livro nunca é tarde demais para se encontrar. Tenho dedicado esse tempo em saber quem realmente sou de verdade. Quero me libertar para ser simplesmente eu.

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    1. Clarice Lispector disse uma vez que, se tivesse que dar um título à própria vida seria: à procura da própria coisa. E acho que todos nós tomamos o mesmo rumo, principalmente o escritor, pois, ele é alguém que sente, e sente muito.

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