Anônimo.

Quantas vezes já repeti o mesmo gesto mutilado, o mesmo trajeto que não leva a nada? Agora faço minha sina, quase bela, de ser o senhor anônimo do mundo, aquele que se perdeu na sua própria história, aquele que não sente mais chuva que cai, que não vê a aproximação da noite.

Não conheço senão, a minha própria evidência. A evidência da minha vida, da minha respiração, dos meus passos. Vejo pessoas indo e vindo, multidões e objetos se formando e dissolvendo. Não há saída, tudo que faço, onde quer que eu vá, não deposito importância em nada. Tudo que faço, faço em vão. Nada que procuro é real.

A armadilha: a perigosa ilusão de ser impenetrável, de não oferecer risco ao mundo lá fora, de sumir, deslizar. Apenas dois olhos abertos, olhando pra frente, percebendo tudo. Sem reter nada para si, um ser sem memória, sem ânimo. Um ser que já morreu.

Isso já se tornou quase um senso comum, me sinto em casa, me sinto em meu antro, na minha gaiola, em meu espaço. 

Estou me sucumbindo aos poucos. 

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