A arte da imobilidade.

Meu despertador toca, nem sequer me mexo. Fico na cama, fecho os olhos de novo. Não é um gesto premeditado, ou melhor, nem sequer é um gesto, mas uma ausência de gesto. Um gesto que não faço, gestos que evito fazer.

E então, outra pessoa, meu irmão gêmeo, minha consciência dupla, talvez... acabe fazendo em meu lugar movimento por movimento. Os gestos que não faço mais: ele acorda, toma banho, se veste e sai. 

Deixo ele descer as escadas, andar pela rua, entrar em um ônibus, chegar a tempo sem fôlego, mas triunfante, até as portas de entrada do meu emprego. O emprego no qual não frequento mais.

A sensação de existir, a impressão de pertencer, ou de estar no mundo, começa a faltar. O passado, o presente, e futuro se confundem. 

Tenho a ideia ilusória de que basta esperar, até que não haja mais nada a esperar. Mas nada acontece, nenhum milagre, nenhuma grande explosão... nada acontece. Até porque o tempo teria de ficar parado, imóvel assim como eu, mas ele não fica. O tempo, que sabe a resposta, continua a fluir. 

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